O LUGAR DA LEI



O LUGAR DA LEI, SABEDORIA E CONHECIMENTO NA CULTURA GAÉLICA / CÉLTICA


Na cultura Celta, o povo era governado pela lei civil. Mesmo Reis e Rainhas estavam sujeitos à Lei; de fato, eles só governavam pela vontade do Povo. O povo podia votar a favor ou contra eles.

Os direitos e privilégios do povo eram expressos com “proteção igual sob a lei”. Homens e mulheres desfrutavam igualmente disto. A cultura era igualitária. Foi apenas após a chegada do Cristianismo que as mulheres começaram a perder seu status legal. Isto se evidencia quando elas foram proibidas de ir ao campo de batalha, e perderam os direitos de propriedade e herança. Elas, de fato, perderam a proteção igual sob a lei.

É um fato provado que a maioria dos costumes antigos dos celtas se manteve intacta, ou foi simplesmente ocultada sob um fino verniz de cristandade. Para alinhar-se o antigo Paganismo com a nova cristandade, foi só uma questão de alterar o contexto de uma ou duas palavras das Tríades, para que estas continuassem imperando sob rótulo cristão, à captação dos mais obstinados tradicionalistas celtas.

Com relação ao conhecimento, compreenda-se aqui que ele era, para nossos ancestrais, uma coisa sagrada. Conhecimento era uma dádiva confiada a nós pelos deuses, devendo ser passada de geração a geração. Há Tríades que falam da importância do conhecimento e sua transmissão; as Tríades chegam a declarar que aqueles que não compartilham seu conhecimento, ensinando o que sabem, são amaldiçoados pelos Deuses.

Algumas Tríades mencionam “virtude”. Isto certamente incomodará alguns não-cristãos modernos. A idéia de virtude dos povos Celtas, como exemplificada pelos Gaels, não é similar ao pensamento moderno associado à palavra. Para eles, “virtude” significava várias coisas, a maioria delas relacionada simplesmente à excelência, que era por si só uma questão de legitimidade (eles eram um povo da lei civil) e orgulho pessoal, etc. Este modo de ver as coisas é antigo, e não é uma justificativa exclusiva do modo Celta; para os amantes da filosofia Grega que lêem isto, até mesmo Aristóteles concordaria com este modo de pensar.

Para os Celtas, viver pela lei do Povo era parte do ser virtuoso, ser honesto era parte do ser virtuoso, ter orgulho era parte do ser virtuoso, etc. A única palavra Inglesa que conheço que pode ser um sinônimo da idéia Celta de virtude é “excelência”. Eles buscavam a excelência: isto é evidente em suas leis, que foram em parte preservadas por seus invasores ao longo dos séculos pela excelência destas leis; em suas expressões artísticas; e em suas tentativas pessoais de excelência, que eram uma grande parte dos modos deste povo que entendia e acreditava na reencarnação.

Muitos daqueles que estudaram os Celtas, Gaélicos ou outros, perceberam que entre eles havia outra forma de lógica. - LÓGICA TRINÁRIA - nas Tríades, vemos o que parece ser um método onde é dado um exemplo, depois outro, depois um terceiro que parece ser o ponto-chave da questão. De qualquer modo, com relação às Tríades, o ponto central de qualquer uma delas parece estar no terceiro item mencionado, seja qual for o tema proposto.



Tríades:

Sobre três coisas que ocultam: um saco aberto não oculta nada, uma porta aberta oculta pouco, uma pessoa aberta oculta algo.

Três coisas não-amadas sem seus complementos: o dia sem a noite, o ócio sem a fome, e a sabedoria sem reverência.

Três chaves que destrancam pensamentos: embriaguez, confiança, e amor.

Três coisas pelas quais a excelência é estabelecida: moderação ao tomar todas as coisas, sem excesso; fidelidade aos juramentos; e aceitação das responsabilidades

Três coisas que dão força a uma pessoa para enfrentar o mundo inteiro: ver a qualidade e a beleza da verdade; ver sob o manto da falsidade; e contemplar a que fins levam a verdade e a falsidade.

Três coisas excelentes para todos: valor, aprendizado, e discrição.

Três coisas que ficam bem numa pessoa: conhecimento, boas ações, e gentileza.

Três coisas que são deveres de todos: ouvir humildemente, responder discretamente, e julgar gentilmente.

Três garantias de felicidade: bons hábitos, amabilidade, e paciência.

Três coisas junto as quais o mal não pode estar: conformidade com a Lei, conhecimento, e amor.

Três coisas difíceis de obter: fogo frio, água seca, e cobiça legítima.

Três modos de perder a excelência: tornar-se servo de suas paixões, não aprender com o exemplo alheio, ser indulgente no excesso.

Três coisas excelentes numa pessoa: diligência, sinceridade, e humildade.

Três coisas que mostram o verdadeiramente humano: a boca silenciosa, o olhar não-inquisitivo, e a face destemida.

Três coisas louváveis nos que as possuem: sabedoria no falar, justiça no agir, e excesso em nada.

Três coisas que acabam mal: falsidade, inveja e astúcia.

Três coisas obtidas pelos avarentos com suas riquezas: dor ao receber, preocupação ao guardar, e medo de perder.

Três coisas melhores que riquezas: saúde, liberdade, e discrição.

Três coisas que, sendo poucas, trazem lucro: pouco comer e beber, pouca preocupação, e pouco uso da língua.

Três coisas de menor valor que tudo o mais: a mulher sem dignidade, o homem sem conhecimento, e o professor sem paciência.

Três coisas das quais nada resultam senão engano: o amor do vulgar, a inocência do dominador, e a fé do doente em seu leito.

Três coisas difíceis para qualquer um: esfriar o fogo, secar a água, e agradar a todo o mundo.

Três coisas que não se pode obter: pobreza do dar esmolas, prosperidade do roubo, e sabedoria da prosperidade.

Três coisas que fazem perder convites: comer muito, falar muito, e pedir muito.

Três indignidades num banquete: tossir na bebida de outro, cortar a mão de outro com sua faca, e derramar seu molho do prato.

Três coisas que fazem o casamento feliz: igualdade de idade, igualdade de linhagem, e igualdade de posses.

Três partes do contrato que exigem atenção especial: o que é explícito, o que é implícito, e o que foi esquecido.

Três fundamentos do acordo mútuo: que não haja nada oculto, que não haja má intenção, e que não haja coerção.

Três coisas que mantêm a pessoa saudável: alimentação moderada, trabalho adequado, e calor natural.

Três remédios infalíveis para toda doença: Natureza, tempo, e paciência.

Três coisas que o prudente não mostra: o fundo da sua bolsa, o fundo do seu conhecimento, e o fundo do seu coração.

Três coisas que não se deve fazer apressadamente: guerras, festas, e debates.

Três coisas nunca repousam: o coração batendo, a respiração em movimento, e a alma considerando.

Três risos do tolo: rir do bom homem, rir do mau homem, e rir do que não conhece.

Três conselhos: conheça seu poder, conheça sua sabedoria, conheça seu tempo.



Por Dom Pêxi
*Créditos: JOHN F. WRIGHT e WILLIAN VIANNA